A Nature, uma das mais antigas e importantes revistas científicas do mundo, publicou artigo da profª drª Margareth da Silva Copertino, do Instituto de Oceanografia da Universidade Federal do Rio Grande – FURG. O artigo de opinião é um alerta sobre a importância da vegetação costeira no balanço de carbono no planeta em tempos de mudanças climáticas.

A pesquisadora explica que o objetivo foi chamar a atenção para o papel dos manguezais, marismas e pradarias submersas dentro do sequestro do carbono (captura e estocagem do carbono atmosférico, o qual compensa as emissões), contribuindo para atenuar as mudanças climáticas. “Enquanto inúmeros esforços têm sido feitos para desacelerar a degradação de ecossistemas terrestres, através da proteção de florestas tropicais como um meio para mitigar a mudança climática, o papel dos ecossistemas costeiros vegetados tem sido negligenciado deste processo”, afirma.

Ela destaca que os habitats costeiros possuem uma alta capacidade de sequestrar carbono tanto na biomassa vegetal como nas camadas do sedimento logo abaixo, podendo ser responsáveis por mais de 50% de todo o carbono estocado nos sedimentos marinhos. “Estima-se que estes ambientes possam estocar entre 5 a 15 vezes mais carbono que ecossistemas terrestres”, revela.

O enfoque é relativamente novo dentro da comunidade científica, mas pesquisadores acreditam que tenha o potencial para transformar o manejo e conservação das áreas costeiras em escalas tanto local como global. “A destruição e degradação de zonas costeiras podem converter esses sumidouros naturais em grandes fontes de carbono para a atmosfera e agravar ainda mais o efeito estufa, já que o carbono sequestrado ao longo de centenas ou milhares de anos poderá ser liberado a médio e/ou longo prazo”, atenta a pesquisadora.

De acordo com Margareth, os esforços atuais para evitar a destruição dessas áreas ainda não têm sido suficientes, mesmo com o conhecimento sobre o papel desses habitats na circulação de nutrientes no meio ambiente, na proteção da costa e no aumento da biodiversidade, servindo como berçário para inúmeras espécies, inclusive pesqueiras. Para exemplificar, a professora lembra que o Brasil, apesar da extensão e importância da sua costa, possui muitas deficiências de conhecimento a serem preenchidas sobre a dinâmica dos ambientes vegetados.

Para discutir algumas dessas questões científicas e suas implicações ambientais, as organizações Conservation International (CI), Intergonvernmental Oceanographic Comission (IOC-Unesco) e International Union for Conservation of Nature (IUCN) elaboraram o programa intitulado “Coastal Blue Carbon”. O programa visa dar bases científicas e econômicas para o desenvolvimento de mecanismos de financiamento associados à conservação dos ecossistemas costeiros.

Margareth é a única brasileira nesse grupo de trabalho científico, formado em fevereiro por pesquisadores de diversos países, para estudar e discutir, durante os próximos dois anos, questões relativas à contribuição dos ecossistemas costeiros vegetados aos estoques globais de carbono e aos processos de sequestro. O nome do programa é uma alusão ao “Green carbon”, termo difundido para denominar o carbono absorvido e emitido pelas florestas, como a Amazônia.

O artigo foi escrito a convite da diretora do programa Oceanos da Conservation International e dos editores da Nature ao grupo “Blue Carbon”, que solicitaram a opinião da pesquisadora brasileira, devido principalmente a posição do Brasil como quarto emissor de carbono do planeta – pelas elevadas taxas de desmatamento - e sua economia de transição emergente. Além disso, o Brasil detém uma das mais extensas zonas costeiras e maiores áreas de manguezais do mundo. “Entendi que chamaram a nossa responsabilidade dentro dos esforços de redução e mitigação das emissões e de conservação dos ecossistemas costeiros”, afirma a pesquisadora. Margareth enfatiza o papel das organizações mencionadas, particularmente da Conservation International, como crucial para o lançamento da iniciativa e para o estímulo dessa e outras publicações no assunto.

O artigo está disponível em: http://www.nature.com/news/2011/110518/full/473255a.html