"Um fenômeno antigo surpreendeu mais uma vez quem passou pela orla da praia do Cassino, emRio Grande, nos últimos dias.

A ressaca do mar trouxe consigo uma espécie de lama, uma cena que se repete no balneário há muitos anos. Para especialistas, o evento não tem relação com a dragagem realizada no canal de acesso ao Porto do Rio Grande, mas, sim, com a vazão do estuário da Lagoa dos Patos. Em breve um estudo deve revelar dados sobre o fluxo de sedimentos no local.

Episódios de lama na praia do Cassino não são recentes. Os primeiros registros encontrados em jornais da cidade por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande (Furg) datam de 1902, período anterior à construção dos Molhes da Barra. No ano de 1998 uma tempestade ocasionou o depósito de toneladas de sedimentos na orla do Cassino.

Os fatos se acumulam, como lembra o professor de Oceanografia Física, Osmar Möller, que acompanhou muitos dos eventos de “ressaca” do mar. “Esses acontecimentos são realmente muito antigos e já foram piores”, afirma. De acordo com Möller, o fenômeno natural se dá a partir de vazões que iniciam na Lagoa dos Patos.

As tempestades costumam ser as maiores causadoras da vinda dos sedimentos até a orla do balneário. “Podem ser tempestades tanto aqui em Rio Grande quanto em outros pontos”, explica.

Com a força das ondas os sedimentos da lagoa acabam sendo “jogados” na praia, formando o que é chamado de “lama fluida”. “De 1982 até 1985 me recordo de fortes ressacas, era muito comum”, diz o professor.

Ainda segundo ele, em 1985 foi constatada a presença de 50 gramas de sedimentos em cada um litro de água após ventos de mais de 70 quilômetros por hora. “Para se ter uma noção do quanto é alto esse índice, nós costumamos usar miligramas para medirmos e não gramas”, salienta.

A aplicação de uma técnica através de um aparelho em alto-mar deve estimar nos próximos anos dados mais exatos quanto o fluxo de sedimentos na praia do Cassino. Até lá, Möller prefere ser otimista. “Prefiro acreditar que não tem ligação com a dragagem no Porto.”

O que diz o Porto
A Superintendência do Porto de Rio Grande (SUPRG) manifesta-se esclarecendo que o processo de dragagem possui autorização por parte do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e que o local de depósito dos sedimentos recolhidos pela dragagem é previamente solicitado ao mesmo órgão.

Já durante a dragagem, uma equipe da Divisão de Meio Ambiente, Saúde e Segurança (Dmass) do porto, realiza semanalmente o monitoramento da qualidade da água. Quanto à atual lama verificada na orla da praia, a SUPRG diz que “até o momento, não há estudo que comprove a relação da dragagem com o acúmulo de lama na praia do Cassino”.

Em busca de uma resposta definitiva, a SUPRG contratou um estudo técnico que possibilite um embasamento sobre o assunto. A última dragagem foi finalizada em janeiro deste ano."

Fonte: http://www.diariopopular.com.br/index.php?n_sistema=3056&;id_noticia=ODUxMTg=&id_area=Mg==